O VENTO
Já era dia
Quando fui despertada
Por uma forte sinfonia !
Era a ventania
Bem arrepiada e mal assobiada.
Já não era a melodia,
Que eu tanto gostava !
Já não era o bailar dos ramos
Que ás árvores embelezava,
Era grande a agitação
Que as fazia dançar assustadas !
E tudo, á volta, rodopiava
Num assobiar temeroso...
Ó vento, eu sei
Que és forte e poderoso,
Ás vezes até pareces rei,
Quando as minhas flores
Se curvam á tua passagem !
Não, não é miragem
O que tanto faz tremer !
Que terá acontecido
Para o vento se enfurecer ?
Diz-me que eu não sei !...
Foi naquele momento
Que num assobiar
Mais suave e mais lento,
O vento soprou ao meu ouvido
E me fez compreender !
Muito tinha a varrer
Era dura a sua missão.
E, num sentido mais profundo
Fez-me entender
Que aspirar o mundo
Era dose de leão.
Então eu compreendi
O quanto és importante !
Mas gosto mais de ti,
Quando te agitas de mansinho
E com as crianças brincas com carinho,
Levando-lhes os balões pelo ar,
Ou fazes o moinho de papel girar,
Quando, no mar,
Tocas o barquinho em viagem,
És forte, és coragem
Quando sopras as velas do moinho
E lhe fazes bater o coração
Que vai moendo devagarinho
O trigo que nos dá o pão !...
És divertido quando brincas
Com as saias das meninas
Ou com os livros dos estudantes,
És livre, e és viajante !
Deixa-me ó vento voar contigo
Agora eu sei o quanto és amigo !
Amor, 94
Maria da Luz Violante
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